O processo democrático vivenciado pelo brasileiro tem nos facultado expressarmos os nossos pensamentos e idéias, e, quando oportunizados, usarmos a mídia para passarmos adiante a nossa mensagem. A democracia que faculta a exposição do pensamento individual também possibilita a explosão do pensamento coletivo. E é essa coletividade de pensamento contrário ao que declarou o professor universitário, coordenador do curso de medicina da UFBA, Drº. Antônio Natalino Dantas, que precisa ganhar corpo e ecoar no país e fora dele.Assim, para esse momento, mais vale a resposta poetizada do nosso Miguezim de Princesa.
A vingança do berimbau
Miguezim de Princesa
Superado pelo tempo / Ensinando muito mal / Fabricando mil diplomas / Para entupir hospital / O doutor da faculdade / Botou, com toda maldade / A culpa no berimbau.
Disse o doutor Natalino / Que o baiano é um mocó / Sem coragem e inteligência / Preguiçoso de dar dó / Só liga pra carnaval / E só toca berimbau / Porque tem uma corda só.
O sujeito ignorante / Não conhece o berimbau / Que atravessou o mundo / Com toda a força ancestral / Na fronteira da emoção / Traz da África a percussão / Da diáspora cultural.
Nem Baden Powel resistiu / À percussão milenar / Uma corda a encantar seis / Na tristeza camará / De Salvador da Bahia / Quem toca e canta poesia / Na dança sabe lutar.
O doutor, se estudou / Na certa não aprendeu nada / Diz que o som do Olodum / Não passa de uma zoada / E a cultura baiana / É uma penca de bananas / Primitiva e atrasada.
Jimmy Cliffi, Michael Jackson / Paul Simon e o escambau / Se renderam ao Olodum / Com seu toque genial / Que nasceu no Pelourinho / E hoje abre caminho / No cenário mundial.
O baiano é primitivo? / Veja só o resultado / Ruy foi o Águia de Haia / Castro Alves, verso-alado / De poeta condoreiro / E gente do mundo inteiro / Se curvou a Jorge Amado.
Bethânea, Caetano e Gil / Armandinho, Dodô e Osmar / Gal Costa, Morais Moreira / Batatinha a encantar / João Gilberto, Bossa Nova / Novos Baianos são prova / Da grandeza do lugar.
Glauber, no Cinema Novo / Gregório, velha poesia / Gordurinha, no rojão / Milton, na Geografia / Anísio, na Educação / Dias Gomes, na encenação / João Ubaldo e Adonias.
Menestrel da cantoria / Temos o mestre Elomar /Xangai, Wilson Aragão / Bule-Bule a improvisar / Roberto Mendes viola / A chula - semba de Angola / Nosso samba de além-mar.
Se eu fosse citar todos / Que merecem citação / Faria um livro de nomes / Tão grande é a relação / Desculpe, Afrânio Peixoto / Esse doutor é um roto / Procurando promoção!
Com vergonha do que fez / Insultar toda a Nação / O tal doutor Natalino / Pediu exoneração / E não encontra ninguém / Nem um nazista do além / Para tomar a lição.
O baiano é pirracento / Mas paga com bem o mal / Dá uma chance a Natalino / Lá no Mercado Central / De ganhar alguns trocados / Segurando o pau dobrado / Da corda do berimbau.
Considerando o que expõe os vídeos e a poesia de Miguezim de Princesa, escreva um pequeno texto, em prosa, explicitando sua opinião sobre o tema em foco.